Suica, Politica Monetaria – 02 Nov 25

SNB 2025: estabilidade monetária sob pressão política e reconfiguração cambial


Aqui pode acompanhar os últimos desenvolvimentos relacionadas com a Política Monetária da Suíça (SNB). Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta economia e mundo com as políticas, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.    


Strategic Highlights – 23 outubro 2025

  • SNB mantém taxa diretora em 0%, a mais baixa entre os principais bancos centrais, interrompendo sete cortes consecutivos desde 2024.
  • Tarifas norte-americanas de 39% sobre exportações suíças ameaçam o crescimento, agora revisto para abaixo de 1% em 2026.
  • A composição das reservas cambiais foi ajustada: euro (39%) ultrapassa o dólar (37%), refletindo prudência diplomática e resposta a tensões com Washington.
  • Ata de política monetária (outubro) confirma conforto com a inflação dentro da meta de 0–2% e rejeita, por ora, o regresso a taxas negativas.
  • A SNB alerta para risco de novas tarifas norte-americanas sobre o setor farmacêutico, que representa mais de 40% das exportações suíças.

Nota de Contexto

A Swiss National Bank (SNB), fundada em 1907 e sediada em Zurique e Berna, é o pilar da estabilidade monetária suíça. Com um mandato dual de estabilidade de preços e estabilidade cambial, o banco central gere uma economia fortemente dependente das exportações e do franco suíço, tradicional refúgio em tempos de incerteza global.

Em 2025, a instituição opera num ambiente de pressão política inédita. A imposição de tarifas de 39% por parte dos Estados Unidos em agosto colocou a Suíça sob tensão económica e diplomática, com impactos diretos sobre os setores de máquinas, relojoaria e fármacos.
O desafio da SNB é manter a inflação dentro da meta enquanto evita uma apreciação excessiva do franco, sem desencadear novas acusações de manipulação cambial vindas de Washington.

1. Política monetária: pausa estratégica após ciclo de cortes

Na reunião de 25 setembro 2025, a SNB decidiu manter a taxa diretora em 0%, após sete cortes consecutivos desde março de 2024.
A decisão marca uma viragem tática:

  • O banco entende que o ciclo de afrouxamento monetário anterior já exerce efeito suficiente sobre o crédito e o investimento;
  • A inflação, que regressou à banda de 0–2%, oferece margem para esperar;
  • O impacto das tarifas norte-americanas cria incerteza, mas ainda não justifica nova redução.

O presidente Martin Schlegel deixou claro que, embora o regresso a taxas negativas tenha um limiar mais elevado, o banco “está preparado para cortar novamente se necessário”.
A mensagem pretendeu equilibrar duas pressões: conter o risco de deflação e evitar reanimar as distorções que as taxas negativas provocaram em fundos de pensões e aforro doméstico (vigentes entre 2014 e 2022).

Analistas como Adrian Prettejohn (Capital Economics) consideram que a pausa “não encerra o ciclo de cortes”, antecipando possíveis reduções em 2026 caso a inflação média desça para próximo de 0%.

2. Reconfiguração cambial: o franco, o euro e o dilema americano

O relatório do 2.º trimestre revelou uma intervenção de 5,06 mil milhões CHF em mercados cambiais, o maior volume em mais de três anos.
O detalhe mais relevante, porém, foi a mudança estrutural na composição das reservas internacionais:

  • Euro: 39% (antes 36%)
  • Dólar: 37% (antes 41%)
  • Restante: iene, libra, ouro e posições em ações globais

A decisão, analisada por Mike Dolan (Reuters), reflete uma estratégia deliberada da SNB para evitar novas acusações de manipulação cambial por parte de Washington.
Com os EUA a impor tarifas de 39% sobre produtos suíços e a acusar outros bancos centrais de intervirem artificialmente para favorecer exportações, a SNB reduziu compras de dólares e passou a focar-se em operações com o euro, estabilizando o par EUR/CHF em torno de 0,93.

O euro ultrapassou assim o dólar como moeda principal das reservas suíças pela primeira vez desde 2020, um marco simbólico que confirma o reposicionamento geopolítico do banco central.

Esta re-alocação sinaliza que o SNB concentrou esforços em evitar a depreciação do euro face ao franco.

Esta orientação também responde ao facto de o cesto cambial ponderado do comércio suíço ser 42% euro e apenas 14% dólar, o que justifica o alinhamento da carteira com a estrutura real das exportações.

3. Perspetivas económicas: crescimento em desaceleração

A SNB reviu a previsão de crescimento para 2026 para “ligeiramente abaixo de 1%”, face a uma estimativa anterior de 1–1,5%.
A autoridade reconhece que os setores de maquinaria e relojoaria são os mais afetados pelas tarifas, enquanto os serviços permanecem relativamente protegidos.
A desemprego deverá subir de forma moderada e o impacto líquido no PIB dependerá da capacidade do governo de renegociar as taxas com Washington.

O governo suíço, por sua vez, tenta mitigar as tensões oferecendo compra adicional de equipamento militar e gás natural liquefeito dos EUA, numa tentativa de preservar o estatuto de parceiro comercial estratégico.

4. Transparência e comunicação: estreia das atas de política monetária

A publicação das atas da reunião de setembro, a 23 outubro, marcou uma novidade institucional: foi a primeira vez que a SNB divulgou detalhes formais do debate interno de política monetária.
O documento reafirma que:

  • A política atual é suficientemente expansionista para sustentar a recuperação;
  • A inflação deverá permanecer dentro da banda de 0–2%;
  • O banco não prevê regressar a taxas negativas salvo “choques de magnitude excecional”.

Economistas como Gero Jung (Walliser Kantonalbank) destacam que a comunicação da SNB “ganhou transparência e previsibilidade”, aproximando-se de práticas de bancos centrais como o ECB e o BoE, o que pode reduzir volatilidade cambial e ancorar expectativas.

5. Riscos emergentes: tarifas farmacêuticas no horizonte

As atas também identificam um novo foco de risco: a possível extensão das tarifas norte-americanas ao setor farmacêutico, até agora isento.
Com Roche e Novartis representando mais de 40% das exportações suíças, qualquer agravamento nas tensões comerciais poderá reverberar sobre o franco e sobre a confiança industrial.

Por enquanto, a SNB considera que os efeitos negativos permanecem confinados aos setores exportadores diretos, sem contágio generalizado para a economia interna, mas admite que o equilíbrio é frágil.

Conclusão

A Swiss National Bank entrou no final de 2025 como o banco central mais estável e mais exposto politicamente da Europa.
Com uma taxa diretora neutra (0%), reservas cambiais recorde e um franco que permanece forte apesar das tarifas, a instituição enfrenta uma equação delicada: defender a competitividade sem comprometer a credibilidade monetária.

O reposicionamento para o euro, a comunicação mais transparente e a gestão preventiva da inflação indicam uma estratégia de prudência ativa, fiel ao estilo suíço, mas cada vez mais condicionado por um ambiente global fragmentado.

A médio prazo, a SNB procurará equilibrar três eixos:

  1. Manter a inflação dentro da meta sem regressar a taxas negativas;
  2. Proteger o franco de choques tarifários e cambiais;
  3. Preservar a independência institucional num contexto de pressões políticas externas.

Se 2024 foi o ano dos cortes e 2025 o da estabilização, 2026 será o teste da resiliência estrutural do modelo suíço, um modelo que, mesmo em tempos de turbulência global, continua a definir o padrão da prudência monetária europeia.


Visite o Disclaimer para mais informações.

Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Política Monetária do SNB, formato “Geral”, atualizado com informações até 23 de Outubro de 2025. Categoria: Bancos Centrais. Classe de Ativos: N/A. Tags: Política Monetária, SNB, Banco Central, Taxa de Juro, Suíça)

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