Resultado marcado por imparidades, mas sem surpresa para o mercado

A Telefónica anunciou um prejuízo líquido de 1,3 mil milhões de euros no primeiro trimestre de 2025, refletindo imparidades no valor de 1,7 mil milhões de euros relativas à venda dos seus ativos na Argentina (1,2 mil milhões) e Peru (500 milhões). Estas operações foram alienadas a valores significativamente inferiores aos registados nos livros, refletindo uma reavaliação da estratégia da empresa na América Latina.

Excluindo estes efeitos extraordinários, a empresa teria registado um lucro ajustado de 427 milhões de euros, abaixo dos 576 milhões do mesmo período de 2024, devido a efeitos cambiais negativos, nomeadamente a desvalorização do real brasileiro.

Receitas recuam, mas dentro das expectativas

As receitas trimestrais caíram 2,9% para 9,22 mil milhões de euros, ainda assim ligeiramente acima das expectativas de mercado (9,1 mil milhões). A quebra foi atribuída à saída de mercados de baixo retorno na América Latina e a efeitos cambiais desfavoráveis.

Apesar da queda, o CEO Emilio Gayo afirmou que os resultados estão “em linha com o plano” e reiterou que os objetivos para 2025 permanecem intactos, com previsão de melhoria dos resultados ao longo do ano.

Nova estratégia em preparação e foco nos mercados-chave

Gayo confirmou que a Telefónica apresentará uma nova estratégia empresarial no segundo semestre de 2025, que deverá refletir o novo perfil geográfico do grupo, mais concentrado nos seus quatro principais mercados: Espanha, Brasil, Reino Unido e Alemanha.

Um dos pilares centrais será o uso intensivo de tecnologias de inteligência artificial para melhorar a rentabilidade e eficiência operacional, reduzindo custos e personalizando serviços.

Reestruturação laboral continua a avançar

A Telefónica poderá avançar com novos cortes de 4.000 a 5.000 empregos ao longo de 2025, de acordo com fontes internas citadas pela imprensa espanhola. Esta nova ronda de saídas segue-se à eliminação de 3.400 postos de trabalho em 2024, o que permitirá uma poupança anual de 285 milhões de euros a partir de 2025.

A empresa justificou a redução do quadro com a automação de processos, retirada progressiva da rede de cobre e o redimensionamento da operação em mercados descontinuados.

Conclusão

A Telefónica inicia 2025 com um trimestre marcado por imparidades e queda de lucros ajustados, mas com uma estrutura mais leve, metas financeiras intactas e um foco renovado nos mercados europeus e no Brasil. O sucesso da transição dependerá da eficácia da nova estratégia empresarial, da execução dos cortes de custos e da capacidade de gerar valor em mercados mais maduros, enquanto enfrenta os desafios operacionais associados à digitalização e à volatilidade cambial. A apresentação da nova estratégia no segundo semestre será crucial para reposicionar a empresa perante os investidores.