
Gilts sob pressão: Reino Unido enfrenta o custo crescente da disciplina orçamental
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com as Gilts do Reino Unido. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam este título de divida soberana e consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – 01 outubro 2025
- Rendimento dos gilts a 30 anos atinge 5,72%, o nível mais alto desde 1998, refletindo preocupação com a sustentabilidade da dívida.
- Curva curta em máximos de 16 semanas: yield a dois anos ultrapassa 4,04%, com probabilidade inferior a 25% de novo corte de taxas este ano.
- Empréstimos públicos até agosto totalizam 83,8 mil milhões £, superando em 11,4 mil milhões £ as previsões do Office for Budget Responsibility.
- Libra esterlina cai para 1,35 USD, registando a maior desvalorização em dois dias desde julho, pressionada por receios fiscais.
- Banco de Inglaterra (BoE) reduz ritmo de vendas de dívida, mas mantém taxas face à inflação ainda próxima do dobro da meta de 2%.
Nota de Contexto
As gilts são obrigações emitidas pelo Tesouro britânico, tradicionalmente consideradas referência de segurança no mercado europeu. Desde o choque fiscal de 2022, as suas yields tornaram-se um termómetro sensível da credibilidade orçamental do Reino Unido.
Em 2025, a nova administração trabalhista liderada por Keir Starmer e Rachel Reeves enfrenta um equilíbrio delicado: reduzir o défice sem travar o crescimento, num contexto de inflação persistente e de custos de financiamento historicamente elevados.
1. Escalada das yields e erosão da confiança
Entre agosto e outubro de 2025, o mercado de dívida britânico viveu uma sequência de pressões ascendentes.
A 18 de agosto, o rendimento dos gilts a 30 anos subiu para 5,625%, o valor mais elevado desde abril, enquanto a yield dos títulos a dois anos atingiu 3,99%.
A subida antecipava dados de inflação superiores ao esperado 3,7% em julho, quase o dobro do objetivo do BoE, e levou os investidores a adiar para março de 2026 a expectativa de um novo corte de taxas.
Duas semanas depois, a 2 de setembro, as yields longas voltaram a disparar: o título a 30 anos atingiu 5,723%, o nível mais alto desde maio de 1998.
A libra caiu 1,5% face ao dólar, tornando-se a pior moeda do G10 nesse dia.
Este movimento foi interpretado como uma reavaliação do risco soberano britânico, num momento em que os investidores exigiam um prémio adicional pela incerteza fiscal e pela ausência de clareza orçamental antes do Orçamento de novembro.
A preocupação agravou-se em setembro, quando dados oficiais revelaram que o endividamento público entre abril e agosto somara 83,8 mil milhões £, 11,4 mil milhões acima das previsões.
A reação foi imediata:
- a libra caiu para 1,349 USD;
- os gilts a 30 anos subiram para 5,547%,
- e o spread face à dívida americana atingiu o máximo de três anos.
2. O dilema de Rachel Reeves: consolidar sem travar
A ministra das Finanças, Rachel Reeves, enfrenta o desafio de equilibrar a consolidação orçamental com a necessidade de preservar a confiança dos investidores.
O aumento do custo da dívida significa que cada décima adicional no rendimento das gilts representa centenas de milhões de libras em encargos adicionais anuais para o Tesouro.
Economistas citados pela Reuters alertaram que o governo “esgotou a margem de erro” e que novos aumentos fiscais são inevitáveis se quiser cumprir as regras orçamentais.
A pressão é acrescida por um mercado de trabalho em desaceleração e pelo impacto das reformas de bem-estar revertidas, que aumentam o gasto público estrutural.
3. O papel do Banco de Inglaterra
O Banco de Inglaterra optou em setembro por manter a taxa diretora e reduzir o ritmo de vendas de gilts no âmbito do programa de quantitative tightening, procurando limitar a volatilidade nos prazos longos.
Apesar de cinco cortes ao longo de 2025, a inflação mantém-se quase duas vezes acima da meta de 2%, o que restringe o espaço para estímulos adicionais.
A 1 de outubro, o rendimento dos gilts a dois anos voltou a subir para 4,04%, o nível mais alto em 16 semanas, enquanto os 10 anos alcançaram 4,74%.
Os futuros de taxas de juro agora atribuem menos de 25% de probabilidade a um corte antes do final de 2025, e só projetam uma redução para 3,75% em abril de 2026.
O BoE enfrenta, assim, um ciclo de política travada: inflação demasiado alta para cortar, economia demasiado frágil para subir.
4. Comparação internacional e percepção de risco
Embora a tendência de subida das yields tenha sido global afetando igualmente EUA, França e Japão, o Reino Unido destacou-se pela vulnerabilidade acrescida.
A dívida pública britânica ultrapassa 100% do PIB, e o défice estrutural permanece elevado face aos pares europeus.
A diferença face à dívida americana atingiu máximos de três anos em setembro, enquanto o spread face aos bunds alemães se alargou para cerca de 150 pontos base, o maior desde o pós-Brexit.
A procura por novas emissões, contudo, continua sólida: o Tesouro conseguiu colocar 14 mil milhões £ em novos gilts a 10 anos no início de setembro, com ordens superiores a 140 mil milhões £, o que mostra que o mercado continua funcional, embora a taxas cada vez mais onerosas.
5. Perspetivas
Os indicadores de setembro e outubro confirmam uma tendência de endurecimento estrutural das condições financeiras no Reino Unido.
Mesmo que o BoE adote um tom mais acomodatício em 2026, as yields dificilmente regressarão abaixo de 4%, dado o novo perfil de dívida e o volume de emissões necessário para financiar o défice e as refinanciações pós-pandemia.
Com a inflação projetada a permanecer acima de 3% até 2027, o mercado passa a incorporar uma taxa neutra mais alta, refletindo a normalização de um regime de juros permanentemente elevados.
O risco central, segundo analistas, é que uma correção abrupta na confiança dos investidores possa forçar o Tesouro a rever o calendário de consolidação orçamental antes do previsto.
Conclusão
O outono de 2025 consolida uma realidade: as gilts deixaram de ser o ativo livre de risco da Europa Ocidental.
O Reino Unido enfrenta o custo de uma década de desequilíbrios acumulados da crise do mini-orçamento de 2022 à inflação persistente de 2025, agora agravado pela necessidade de financiamento público recorde.
Enquanto Rachel Reeves prepara um orçamento de novembro inevitavelmente austero, o mercado obriga Downing Street a lidar com a sua própria contradição:
“não há disciplina orçamental sem crescimento, mas também não há crescimento com yields a 5,7%”.
Visite o Disclaimer para mais informações.
Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre as Yields das Gilts do Reino Unido, formato “News”, atualizado com informações até 01 de Outubro de 2025. Categorias: Dívida Soberana. Tags: GILTs, Reino Unido, Yields, Dívida, Bonds)