Venture Global: Arbitragem, Estratégia Comercial e Pressões Geopolíticas no LNG
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Venture Global. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta empresa e consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – dados até 15 novembro 2025
- Shell recorre ao Supremo de Nova Iorque para anular a decisão arbitral que perdeu em agosto contra a Venture Global.
- BP venceu uma arbitragem superior a mil milhões USD, pressionando a posição jurídica da empresa em contratos de Calcasieu Pass.
- Venture Global angariou mais de 20 mil milhões USD com a venda de mais de 400 cargamentos spot entre 2022–2025 antes de declarar operações comerciais.
- Plaquemines exportou 1,6 Mt em setembro (17% do LNG dos EUA), reforçando a capacidade livre da empresa e permitindo negociações com a Ucrânia.
- ICC ordenou à Shell o pagamento das custas legais da Venture Global após derrota arbitral.
Nota de Contexto
A Venture Global é um dos operadores de LNG de crescimento mais rápido nos EUA, com três polos estratégicos: Calcasieu Pass, Plaquemines e CP2 (em construção). O seu modelo assenta em modularidade, arranque faseado e monetização antecipada de volumes antes da ativação formal dos contratos de longo prazo. Esta abordagem permitiu capturar prémios significativos no mercado spot entre 2022 e 2025, sobretudo após a invasão russa da Ucrânia, mas desencadeou litígios com vários clientes europeus e asiáticos que alegam falhas contratuais na entrega de volumes atribuídos.
1. Litígios e Arbitragem: Impacto Estratégico na Reputação e Governação Comercial
O ciclo arbitral de 2023–2025 tornou-se um dos elementos centrais da trajetória recente da Venture Global. As reclamações apresentadas por Shell, BP, Edison e Galp questionam tanto a calendarização da entrada comercial de Calcasieu Pass como a priorização de vendas spot durante o período de arranque prolongado.
Shell: da derrota arbitral ao apelo judicial
A decisão arbitral desfavorável de agosto de 2025 motivou a Shell a interpor recurso no Supremo de Nova Iorque. A empresa invoca que a Venture Global não divulgou documentos cruciais relacionados com alegadas comunicações a terceiros sobre o adiamento “abrupto e inexplicável” do início comercial, inicialmente projetado, segundo a Shell, para 2022.
O recurso não reabre o mérito, mas procura anular a sentença por falhas processuais. A Venture Global refuta as acusações e defende que o processo foi justo, unânime e final, classificando o apelo como uma tentativa de recuperar pela via judicial aquilo que não foi obtido em arbitragem.
BP: vitória de referência para o setor
Ao contrário da Shell, a BP obteve uma decisão favorável em outubro de 2025, num caso avaliado em mais de mil milhões USD, onde o tribunal concluiu que a Venture Global atrasou a declaração de operações comerciais para favorecer vendas spot.
Esta decisão reforça a pressão sobre o posicionamento jurídico da empresa, introduzindo precedentes que outros compradores podem tentar aproveitar.
Custas legais: reversão financeira imediata
A 15 de novembro, a ICC determinou que a Shell deve pagar as custas legais da Venture Global decorrentes do processo arbitral perdido. A empresa anunciou que destinará os montantes a projetos de restauração costeira no Golfo da América.
Esta decisão, embora de menor escala financeira, oferece à Venture Global uma vitória reputacional no curto prazo.
2. Modelo Comercial e Monetização via Mercado Spot
A prática da Venture Global de manter unidades de liquefação em fase de comissionamento durante períodos prolongados permitiu capturar receitas extraordinárias. Entre 2022 e 2025, a empresa vendeu mais de 400 cargamentos no mercado spot, gerando mais de 20 mil milhões USD em receitas antes de iniciar entregas contratuais em abril de 2025.
Este modelo maximizou fluxos de caixa, mas amplificou tensões com compradores europeus, em particular Shell, BP, Galp e Edison, que esperavam volumes firmes de longo prazo num período de forte volatilidade de preços. As reclamações combinadas atingiam 5,5 mil milhões USD no início de 2025.
A pressão comercial e jurídica contribuiu também para deteriorar o sentimento de mercado: as ações da Venture Global caíram 11,3% após o anúncio do apelo da Shell, mantendo uma perda acumulada próxima de 70% desde o IPO em janeiro de 2024.
3. Plaquemines: Capacidade Livre, Peso nas Exportações e Relevância Geopolítica
Plaquemines, com 27,7 mtpa de capacidade projetada, tornou-se o principal instrumento de flexibilidade comercial da Venture Global. Em setembro de 2025, o terminal exportou 1,6 milhões de toneladas, representando 17% das exportações totais dos EUA, um valor expressivo para um projeto ainda em comissionamento.
Esta capacidade disponível posiciona a empresa como o único operador norte-americano com oferta adicional significativa no curto prazo, fator crítico num contexto internacional marcado por:
- reconstrução das reservas europeias,
- volatilidade dos fluxos russos,
- procura crescente da Ásia,
- necessidades energéticas emergenciais da Ucrânia.
4. Relação com a Ucrânia: Diplomacia Energética em Tempo Real
A 17 de outubro, surgiram informações de que a Venture Global estava em negociações com a DTEK para fornecer cargas adicionais de LNG antes do inverno.
A relevância estratégica deste contacto é dupla:
- Necessidade crítica da Ucrânia: ataques repetidos às infraestruturas energéticas reduziram a capacidade doméstica, obrigando o país a reforçar importações de gás de forma rápida e contínua.
- Posicionamento geopolítico dos EUA: a inclusão do CEO Michael Sabel numa delegação que se reuniu com o Presidente Zelensky em Washington reforça o peso político da Venture Global enquanto fornecedor com flexibilidade imediata.
A DTEK já possuía um acordo assinado em 2024 para volumes não divulgados de Plaquemines, além de 2 mtpa atribuídos ao projeto CP2, reforçando a exposição da empresa a contratos europeus e aliados estratégicos.
Conclusão
A Venture Global encontra-se num ponto crítico da sua evolução comercial: o seu modelo de arranque prolongado, que permitiu capturar receitas excecionais no mercado spot, gerou simultaneamente pressão regulatória, litigiosa e reputacional. A vitória da BP e o recurso da Shell elevam o escrutínio internacional sobre a estratégia de declaração tardia de operações comerciais.
Apesar disso, a empresa mantém vantagens estruturais importantes:
- capacidade livre única nos EUA através de Plaquemines,
- presença crescente em mercados de segurança energética, como a Ucrânia,
- solidez financeira destacada pela administração,
- e uma rede de projetos em expansão que continua a atrair compromissos de longo prazo.
Os próximos meses serão determinados pela evolução jurídica, onde decisões adicionais poderão redefinir a margem de manobra contratual da empresa e pela velocidade com que Plaquemines e CP2 transitam para operação plena. A forma como a Venture Global gere este equilíbrio entre flexibilidade comercial e obrigação contratual será decisiva para a recuperação da confiança dos compradores e para a estabilização do seu valor de mercado.
Visite o Disclaimer para mais informações.
Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Venture Global, formato “News”, atualizado com informações até 15 de Novembro de 2025. Categorias: Energia. Classe de Ativos: Ações. Tags: Acionista, Venture Global, Energia, Natgas, EUA)