Volkswagen enfrenta desequilíbrios globais: crescimento europeu e elétrico compensam fraqueza na China e reestruturação na Índia
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Strategic Highlights – 10 outubro 2025
- Entregas globais do 3.º trimestre subiram 1% YoY, impulsionadas por Europa e América do Sul, enquanto China (-7%) e EUA (-5%) penalizaram resultados.
- Vendas de veículos elétricos (BEV) cresceram 33,1% no trimestre, com alta de 213% na América do Norte e 60% na Europa, compensando queda de 55% na China.
- O grupo Volkswagen está em negociações avançadas com Washington para novos investimentos industriais nos EUA, visando mitigar tarifas de 27,5% sobre automóveis importados.
- A subsidiária Skoda Auto Volkswagen India iniciou reorganização estrutural com saída de 10 executivos seniores e auditoria operacional independente, em resposta a queda de rentabilidade e disputa fiscal de 1,4 mil milhões USD.
- A Volkswagen revê guidance de 2025, assumindo impacto de 5,1 mil milhões EUR pela adição de custos e adiamento de modelos elétricos da Porsche AG.
Nota de Contexto
A Volkswagen AG (FWB: VOW3) é o segundo maior fabricante automóvel mundial, com um portefólio que inclui VW, Audi, Porsche, Skoda, SEAT, Bentley, Lamborghini e MAN.
Nos últimos três anos, o grupo enfrentou pressões geopolíticas, regulatórias e de transição elétrica, com destaque para:
- Tarifas punitivas nos EUA e na China,
- queda de competitividade das marcas premium (Audi e Porsche),
- e reorganização forçada na Índia, o terceiro maior mercado automóvel do mundo.
O CEO Oliver Blume, que acumula as funções de líder da VW e da Porsche, tenta recentrar o grupo em três eixos estratégicos:
(1) produção local nos EUA, (2) rentabilidade elétrica na Europa, e (3) reestruturação de mercados emergentes deficitários.
1. Crescimento europeu e elétrico sustenta resultados trimestrais
No terceiro trimestre de 2025, o Volkswagen Group reportou uma subida de 1% nas entregas globais, beneficiando do lançamento de novos modelos na Europa Ocidental e da recuperação em mercados latino-americanos.
- Europa: +4,5% YoY, impulsionada por novos modelos elétricos VW ID.7 e Skoda Enyaq.
- América do Sul: +6%, com destaque para o Brasil.
- China: -7%, num contexto de competição acentuada e saturação de EVs locais.
- EUA: -5%, afetada por tarifas e atrasos logísticos.
A divisão elétrica (BEV) foi o principal motor do trimestre, com 252.100 unidades vendidas (+33,1%).
Por região:
- Europa: +60%
- América do Norte: +213%
- China: -55%
A forte queda chinesa reflete a pressão competitiva da BYD e da NIO, que reduziram preços agressivamente, e o atraso da VW na adaptação do software e design local.
Apesar do crescimento elétrico, a empresa reduziu o guidance anual em setembro, citando um encargo de 5,1 mil milhões EUR devido ao adiamento de modelos Porsche 100% elétricos e custos adicionais de transição tecnológica.
2. Estratégia americana: investimento para neutralizar tarifas
Durante o Salão Automóvel de Munique (IAA 2025), o CEO Oliver Blume confirmou que a VW está em negociações avançadas com o governo dos EUA para estabelecer novos investimentos industriais.
- O grupo procura atenuar tarifas de 27,5% impostas sobre automóveis europeus, que já custaram vários milhares de milhões de euros em 2025, segundo Blume.
- As conversações visam a construção de uma nova fábrica Audi e expansão da produção local da Porsche, com incentivos federais em análise.
- A empresa pressiona por um acordo de reciprocidade tarifária, considerando “assimétrico” o regime atual, em que os EUA exportam bens industriais para a UE sem taxas, mas penalizam veículos europeus.
Blume descreveu as negociações como “muito positivas”, sublinhando a urgência de decidir sobre a localização de produção doméstica.
O movimento reflete o objetivo de relocalizar a cadeia de fornecimento norte-americana, aproximando-se da abordagem seguida pela BMW e pela Hyundai-Kia após os incentivos do Inflation Reduction Act.
A Porsche, particularmente exposta à dupla pressão de tarifas nos EUA e mercado chinês em desaceleração, foi descrita por Blume como estando “num sanduíche entre Washington e Pequim”, a metáfora que resume o dilema das marcas premium europeias em 2025.
3. Índia: reestruturação profunda e crise de confiança interna
Em setembro de 2025, a subsidiária Skoda Auto Volkswagen India (SAVI) iniciou uma reorganização estrutural completa, segundo um memorando interno obtido pela Reuters.
A decisão surge num contexto de rentabilidade decrescente e litígio fiscal sem precedentes.
Elementos principais da reestruturação:
- Contratação de consultores externos para revisão de processos e “curso de correção”.
- Saída de cerca de 10 executivos seniores, incluindo CFO, RH, custos e qualidade.
- Disputa fiscal de 1,4 mil milhões USD por alegada evasão de impostos de importação, cujo desfecho poderá custar até 2,8 mil milhões USD com juros e penalidades.
- Quota de mercado: apenas 2% das vendas automóveis indianas (4 milhões de unidades/ano), apesar de 20 anos de presença.
- Receitas triplicadas em 5 anos (766 milhões → 2,15 mil milhões USD), mas lucro líquido em queda (85 → 10,6 milhões USD).
A reestruturação pretende tornar a operação mais leve, ágil e orientada para elétricos, preparando o terreno para novos investimentos após 2026.
O plano inclui a adaptação da tecnologia EV chinesa da VW para a Índia, em parceria com Mahindra & Mahindra, para reduzir custos e cumprir as normas de eficiência de 2027.
Apesar do esforço, o grupo enfrenta a perceção de estagnação estratégica face à expansão de concorrentes como Kia, Hyundai e Tata Motors, que dominaram os segmentos de SUVs e elétricos acessíveis.
4. Visão estratégica: consolidação e regionalização
Os três vetores da atual estratégia global de Oliver Blume podem ser resumidos da seguinte forma:
| Pilar | Objetivo | Estado atual (out 2025) |
| Europa | Consolidar liderança em EVs e margens via plataformas unificadas (MEB+) | BEV +33%, ID.7 e Cupra Tavascan bem recebidos |
| Américas | Localizar produção para escapar a tarifas e captar incentivos dos EUA | Negociações avançadas com Washington; decisão pendente até Q1 2026 |
| Emergentes (Índia, Sudeste Asiático) | Reestruturar operações e preparar entrada em massa de EVs | Auditoria em curso; realinhamento com Mahindra e fornecedores locais |
A estratégia de regionalização, produzir onde se vende é hoje a principal resposta da VW à fragmentação do comércio global e à nova lógica pós-globalização.
Conclusão
O terceiro trimestre de 2025 confirma a resiliência da Volkswagen num ambiente de comércio fragmentado e transição energética acelerada.
A empresa cresce moderadamente, mas com geografia assimétrica:
- Europa e América do Norte em expansão,
- China e Índia em retração estrutural.
Os próximos meses serão decisivos para definir se o grupo consegue transformar-se num fabricante regionalizado de alcance global, equilibrando as tensões entre Washington, Bruxelas, Nova Deli e Pequim.
A capacidade de Oliver Blume em articular parcerias industriais, disciplina financeira e adaptação tecnológica determinará se a Volkswagen mantém o seu estatuto de referência industrial ou se entra numa fase de estagnação estratégica sob pressão premium.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre a Volkswagen, formato “News”, atualizado com informações até 10 de Outubro de 2025. Categorias: Transporte. Classe de Ativos: Ações. Tags: Acionista, Alemanha, Transporte, Volkswagen, Veículos Elétricos, Veículos a Combustão, Veículos Híbridos)