Intel 2025: Reestruturação, liquidez e a nova aposta em inteligência artificial
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Intel. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta empresa e consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – 31 outubro 2025
- Lip-Bu Tan acelera a reestruturação com corte de 22% da força laboral e suspensão de fábricas na Alemanha e Polónia.
- Receitas do 3.º trimestre atingem 13,14 mil milhões USD, queda de 1% YoY, mas unidades de PC e data center sobem 11% e 18%, respetivamente.
- Processo 18A entra em produção comercial com o chip Panther Lake, enquanto Tan impõe disciplina de capital e possível abandono do negócio de foundries.
- Injeção de 15,9 mil milhões USD em capital externo: 10% via governo dos EUA, 2 mil milhões da SoftBank e 5 mil milhões da Nvidia, reforçando liquidez e confiança dos investidores.
- Lançamento anunciado do Crescent Island, GPU para data centers focada em eficiência energética e inferência de IA, previsto para 2026.
Nota de Contexto
A Intel, outrora sinónimo de supremacia industrial norte-americana, entrou em 2025 sob forte pressão operacional e financeira após anos de declínio tecnológico.
Com sede em Santa Clara, Califórnia, e responsável pelo modelo x86, que ainda domina o mercado de PCs e servidores, a empresa enfrenta erosão de quota de mercado perante AMD e a crescente adoção de chips baseados em ARM.
A nomeação de Lip-Bu Tan em março de 2025 trouxe uma mudança estrutural: da expansão descontrolada para uma gestão de austeridade estratégica, focada em liquidez, rentabilidade e realinhamento tecnológico.
1. Reestruturação e disciplina operacional
A prioridade de Tan foi estabilizar uma empresa fragilizada por anos de má execução.
Logo após assumir funções, o executivo reduziu o número de níveis hierárquicos em 50% e anunciou o corte de 22% da força laboral até ao final de 2025, reduzindo o total de 96.400 para cerca de 75.000 trabalhadores.
O plano incluiu medidas rigorosas:
- Encerramento e consolidação de operações de packaging entre Costa Rica, Vietname e Malásia;
- Suspensão de novas fábricas na Alemanha e Polónia;
- Travagem na expansão em Ohio, antes apresentada como o grande polo de fabrico americano;
- Revisão do processo 18A, com foco exclusivo em chips internos.
Tan sintetizou a sua abordagem numa frase que se tornou símbolo da nova Intel:
“Não haverá mais cheques em branco. Cada investimento deve fazer sentido económico.”
Esta viragem para uma cultura de capital disciplinado surge após anos de sobre-investimento em fábricas e processos sem clientes garantidos, uma prática que drenou margens e forçou cortes sucessivos.
2. Liquidez reforçada e mudança de capital
No terceiro trimestre, a Intel tornou-se uma das empresas tecnológicas com maior capitalização governamental da história moderna.
O governo dos EUA comprou 10% da empresa por 8,9 mil milhões USD, num acordo enquadrado na política de soberania tecnológica.
A transação foi complementada por 2 mil milhões da SoftBank e 5 mil milhões da Nvidia, elevando o total de capital novo para 15,9 mil milhões USD.
Estas injeções restabeleceram a liquidez após anos de fluxos de caixa negativos e permitiram financiar parcialmente o relançamento da linha Panther Lake e o desenvolvimento do novo Crescent Island.
A diluição acionista, inevitável com a emissão de novas ações, reduziu o lucro por ação, mas reforçou a confiança do mercado: o título duplicou desde janeiro, superando a valorização média do setor.
3. Recuperação parcial dos resultados
Os números do 3.º trimestre fiscal de 2025 ilustram uma Intel em transição estrutural:
- Receitas: 13,14 mil milhões USD (-1% YoY);
- Lucro ajustado: 0,01 USD por ação;
- Prejuízo líquido esperado: 0,22 USD por ação, penalizado pela diluição;
- Divisão PC: +11% (8,12 mil milhões USD), impulsionada pelo ciclo de atualização do Windows e pelo lançamento inicial do Panther Lake (18A);
- Data Centers: +18% (3,95 mil milhões USD), com aumento de vendas de CPUs complementares a GPUs em servidores de IA;
- Fabrico (foundry): 4,37 mil milhões USD, ainda sem crescimento significativo.
Os analistas apontam para um equilíbrio delicado: a empresa voltou a crescer em segmentos estratégicos, mas continua com margens comprimidas e baixa rentabilidade operacional.
4. Aposta em inteligência artificial: de espectadora a participante
A ausência da Intel no “boom da IA” tornou-se uma das maiores críticas à gestão anterior.
Em resposta, Lip-Bu Tan anunciou em outubro o Crescent Island, GPU para data centers que visa eficiência energética e inferência, isto é, operações de IA já treinadas e otimizadas para custo e desempenho.
O CTO Sachin Katti afirmou que a Intel lançará um novo chip de IA por ano, adotando o ritmo de atualização de rivais como AMD e Nvidia.
A abordagem será modular e aberta, permitindo integrar chips de terceiros nos sistemas Intel, reforçando o papel da empresa como fornecedora essencial de CPUs em qualquer infraestrutura de IA.
O Crescent Island, com 160 GB de memória convencional, não concorrerá diretamente com GPUs de topo, mas posiciona a Intel como alternativa eficiente e de custo competitivo, capaz de servir segmentos de computação distribuída e “edge AI”.
5. Estratégia e perspetivas
O plano de Tan apoia-se em três pilares estruturais:
- Disciplina financeira:
Parar a expansão especulativa e assegurar que cada investimento gera retorno tangível.
A nova Intel deve crescer de forma rentável, não apenas volumétrica. - Reindustrialização seletiva:
Manter capacidade produtiva nos EUA e Ásia, mas apenas com ocupação garantida.
As fábricas deixam de ser símbolos políticos e voltam a ser ativos económicos. - Reposicionamento tecnológico:
Foco em IA aplicada, eficiência energética e integração CPU–GPU.
A empresa deixa de tentar competir diretamente em todos os segmentos e passa a reforçar nichos de rentabilidade.
A longo prazo, o sucesso dependerá da capacidade de rentabilizar o processo 18A, garantir escala para o futuro 14A e consolidar a credibilidade técnica perdida.
O mercado concedeu uma “janela de tolerância”, mas os resultados de 2026 serão o teste real à eficácia do novo modelo.
Conclusão
O ciclo iniciado em 2025 é o mais profundo da história recente da Intel.
Sob a liderança de Lip-Bu Tan, a empresa passa de uma expansão descontrolada para uma gestão de precisão cirúrgica.
O reforço de capital, a retoma parcial das vendas e o regresso à inovação em IA assinalam o início da reconstrução de um ícone industrial.
Contudo, a travessia ainda é longa: a Intel enfrenta concorrência feroz, margens estreitas e uma base tecnológica atrasada.
Se Tan conseguir transformar disciplina em execução e liquidez em inovação, a Intel poderá, finalmente, reconquistar relevância no ecossistema da IA e reafirmar-se como pedra angular da indústria americana.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre os Earnings (Resultados) da Intel, formato “News”, atualizado com informações até 31 de Outubro de 2025. Categorias: Tecnologia. Tags: Acionista, Intel, Earnings, Tecnologia, Semicondutores, EUA, Inteligência Artificial)