Brasil, Economia – 16 Out 25

Brasil 3T25: economia abranda e inflação ressurge, mantendo o Banco Central em pausa prolongada


Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Economia do Brasil. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.


Strategic Highlights – 07 outubro 2025

  • Atividade económica (IBC-Br) recua -0,5% m/m em julho, terceira queda consecutiva e pior que o esperado (-0,2%).
  • Vendas a retalho caem -0,3% m/m em julho, quarto mês de descida; taxa Selic mantém-se em 15%, máximo em 20 anos.
  • Inflação IPCA-15 sobe 0,48% até meados de setembro, com habitação +3,31% e alimentos -0,35%.
  • IPCA oficial de setembro previsto em +0,52% m/m e +5,22% a/a, 12.º mês acima da meta de 3%.
  • Governo reduz previsão de crescimento 2025 para 2,3% (de 2,5%), citando desaceleração e juros altos.

Nota de Contexto

A economia brasileira entra no último trimestre de 2025 num ponto de inflexão: a fase de expansão iniciada em 2023 dá lugar a estagnação gradual, com inflação persistente e política monetária contracionista.
O Banco Central mantém a taxa Selic em 15%, após um ciclo de alta de 450 pontos base desde setembro de 2024, e sinaliza uma pausa longa, o que, combinado com travagem no consumo, leva a revisões em baixa das previsões de crescimento.

1. Atividade económica: queda pelo terceiro mês consecutivo

O índice IBC-Br, considerado proxy do PIB, caiu -0,5% em julho (ajustado sazonalmente), marcando a terceira descida mensal seguida e superando a previsão de -0,2%.
Todos os componentes apresentaram leituras negativas, agropecuária, indústria e serviços, além de impostos sobre produção.

  • Em termos homólogos, o índice cresceu +3,5% a/a, refletindo ainda a base fraca do segundo semestre de 2024.
  • O Ministério das Finanças reviu o PIB 2025 para +2,3%, citando o impacto cumulativo dos juros altos e moderação no consumo.

A contração da atividade é coerente com o enfraquecimento do retalho e da confiança. O abrandamento é setorialmente difuso, com desaceleração nas vendas de bens duradouros e nos serviços presenciais, que haviam sido os pilares da recuperação pós-pandemia.

2. Consumo: retalho acumula quatro quedas mensais

As vendas a retalho caíram -0,3% em julho m/m, em linha com as expectativas, acumulando o quarto recuo seguido.
Na variação anual, houve +1,0% a/a, ligeiramente acima do consenso (+0,8%), sustentada apenas por segmentos alimentares e farmacêuticos.

“O setor está a perder resiliência. O sentimento aponta para tempos difíceis nos próximos seis meses”, afirmou Andres Abadia, da Pantheon Macroeconomics.

Com a Selic a 15%, os custos de crédito para famílias e empresas atingem máximos em quase duas décadas. O endividamento das famílias continua elevado (superior a 49% da renda disponível, segundo o BC), o que restringe o espaço para consumo discricionário.

3. Inflação: fim da deflação e regresso acima de 5%

Após a queda de -0,11% m/m em agosto, a inflação medida pelo IPCA-15 voltou a subir 0,48% até meados de setembro, refletindo o fim do bónus Itaipu (subsídio temporário na eletricidade) e o aumento do custo da habitação (+3,31%).

  • Alimentos e bebidas: -0,35%, quarta queda consecutiva, graças ao real valorizado e tarifas dos EUA sobre produtos agrícolas, que redirecionaram oferta ao mercado interno.
  • Energia elétrica: +10,2% em média, revertendo o desconto de agosto.
  • Serviços: núcleo +0,21% m/m, 6,95% a/a, o valor mais alto em 28 meses.

O IPCA anual projetado para setembro é 5,22%, completando 12 meses acima da meta (3% ±1,5 p.p.) e 8 meses consecutivos acima de 5%, a sequência mais longa desde 2023.

“O núcleo de serviços mostra que a economia continua quente”, observou o presidente do Banco Central, reforçando que as projeções apontam inflação ainda acima da meta até 2028.

4. Política monetária: pausa prolongada, juros “por tempo indeterminado”

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 15% pela segunda reunião seguida e endureceu o tom das suas comunicações, sinalizando que a política permanecerá restritiva por período prolongado.
A decisão reflete:

  • inflação persistente no setor de serviços,
  • expectativas ancoradas acima da meta,
  • e risco de reaceleração fiscal por medidas de crédito do governo Lula.

Economistas apontam que o BC enfrenta limitações políticas: embora o abrandamento da atividade justifique cortes, a inflação acima de 5% e o viés expansionista do governo impedem alívio monetário.

5. Perspetiva fiscal e cambial

Apesar da desaceleração, o real manteve-se relativamente estável entre 5,10 e 5,20 por USD, sustentado por fluxos de exportação e diferencial de juros.
O governo procura apoiar a economia com créditos subsidiados e investimentos públicos, mas tais medidas neutralizam parcialmente o esforço do BC em conter a inflação.

A médio prazo, a convergência dependerá da moderação da inflação de serviços e da execução de reformas fiscais que evitem novo aumento estrutural da dívida pública, hoje acima de 76% do PIB.

6. Perspetivas (4T25–2026)

CenárioProbabilidadePIB 2025IPCA 2025Política Monetária
Base (55%)A economia estabiliza no 4T25, impulsionada por exportações agrícolas e serviços.2,3%5,0%Selic mantém-se em 15% até meados de 2026.
Baixo (30%)Inflação dos serviços acelera; BC endurece mais; PIB < 2%.1,8%>5,5%Selic prolonga-se até 2027.
Alto (15%)Inflação converge rapidamente; estímulos fiscais e cambiais ganham tração.2,6%4,5%Corte gradual no 2S26.

Conclusão

O Brasil encerra o 3.º trimestre de 2025 numa posição de crescimento enfraquecido e inflação resistente, combinação que obriga o Banco Central a manter juros recorde mesmo perante sinais de desaceleração.
A política monetária restritiva cumpre o objetivo de travar a procura, mas prolonga a estagnação no consumo e nos investimentos.
Com a inflação encalhada acima de 5%, o Copom encontra-se num beco de difícil saída: flexibilizar cedo demais reavivaria a pressão cambial e a inflação de serviços; esperar demais poderá transformar a desaceleração em recessão técnica.


Visite o Disclaimer para mais informações.

Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre o PIB do Brasil, formato “Geral”, atualizado com informações até 07 de Outubro de 2025. Categoria: Economia. Classe de Ativos: N/A Tags: Economia, Brasil, America do Sul)

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