Brasil entre desinflação gradual, juros recorde e reconfiguração comercial no choque tarifário com os EUA
Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Economia do Brasil. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos da atividade económica mais relevantes que impactam esta economia e mundo, consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.
Strategic Highlights – 06 novembro 2025
- A inflação brasileira desacelerou de forma consistente no 2.º semestre, com o IPCA-15 a cair para 4,94% e o núcleo a regressar abaixo de 5%.
- O Banco Central manteve a Selic em 15%, apesar de projeções que não convergem totalmente para a meta de 3% até 2027.
- O superavit comercial de outubro subiu 70% a/a, para 7 mil milhões USD, impulsionado por commodities e pela forte reorientação das exportações da China (+33,4%).
- A relação EUA–Brasil entrou em fase de renegociação após Trump elevar tarifas de 10% para 50%, provocando uma queda de 37,9% nas exportações brasileiras para os EUA.
- O Ministro Haddad classificou os juros reais de ~10% como “excessivamente restritivos” e pressiona por cortes, afirmando que a inflação de 2025 ficará dentro da meta.
Nota de Contexto
A economia brasileira atravessa 2025 entre dois vetores estruturais: a política monetária mais restritiva em quase duas décadas e um choque externo significativo provocado pela escalada tarifária com os EUA. Com a Selic em 15% desde julho, o Banco Central procura consolidar a desinflação num cenário de serviços persistentemente pressionados. Ao mesmo tempo, o realinhamento geopolítico força o Brasil a redirecionar fluxos comerciais, sobretudo commodities, com impacto direto na balança de bens. Todas as leituras referem-se a trimestres fiscais e leituras mensais de inflação, que não coincidem com trimestres civis.
1. Política monetária: Selic em 15% por período prolongado apesar da inflação acima da meta
Em 26 de junho, o Banco Central confirmou que manteria a Selic em 15% por um período prolongado, mesmo após projeções internas mostrarem que a inflação não chegaria ao centro da meta de 3% até 2027.
Principais pontos anunciados:
- Inflação 2027: 3,2%;
- Inflação 4T26: 3,6%;
- Mercado (Focus) assumia juros de 14,25% até janeiro/2026, mas o BC já tinha elevado para 15%, mostrando desalinhamento entre expectativas e o cenário efetivo.
- O BC reforçou compromisso absoluto com a meta e disse que pode voltar a subir juros se necessário.
- Intervenções cambiais não representam mudança de política, mas apenas ajustes em cupons de FX.
Este ponto é central para 2025: a política monetária permanece ancorada numa estratégia hawkish, mesmo após sinais de desinflação mais ampla no segundo semestre.
2. Inflação: desinflação progressiva com sinais estruturais mais claros
O processo ganhou tração a partir de setembro.
Agosto (dados divulgados a 10 setembro)
O IPCA registou –0,11%, primeira queda mensal em um ano.
No entanto, a leitura foi menos negativa do que o esperado, reforçando a prudência monetária.
- Desinflação foi parcialmente explicada por queda de frutas e café, por aumento da oferta devido às tarifas norte-americanas.
- Serviços continuam pressionados: +0,39%.
- IPCA 12 meses: 5,13%.
Meados de outubro (IPCA-15)
A 24 outubro, o índice recuou para 0,18% (abaixo dos 0,25% previstos), com inflação anual a cair para 4,94%.
- Núcleo regressa para <5%, evidência de desinflação mais abrangente.
- Alimentos registam quinta queda mensal consecutiva (-0,02%).
- O BC reforça postura de pausa prolongada na Selic.
A combinação de inflação mensal baixa, core em queda e desaceleração dos alimentos indica que o segundo semestre foi marcado por melhoria substancial dos fundamentos de preços, ainda que insuficiente para justificar cortes imediatos.
3. Relação comercial EUA–Brasil: choque tarifário e início das negociações
A 26 de outubro, Lula e Trump reuniram-se paralelamente à ASEAN e anunciaram a abertura de negociações “imediatas” para resolver as tarifas americanas elevadas em agosto de 10% para 50%.
Impactos imediatos:
- Exportações brasileiras para os EUA caíram 37,9% em outubro.
- Exportações para a China aumentaram 33,4%.
- Lula classificou as tarifas como um “erro”, lembrando que os EUA acumularam 410 mil milhões USD de superavit com o Brasil desde 2010.
O setor da carne bovina e o setor do café consideraram o encontro positivo, sublinhando que previsibilidade e redução de tarifas é crucial para preservar competitividade.
4. Política económica interna: pressão do Ministério da Fazenda por cortes de juros
A 4 de novembro, Fernando Haddad afirmou que a taxa Selic em 15% é “excessivamente restritiva” e que juros reais de ~10% “não fazem sentido” para uma economia que já mostra sinais de arrefecimento.
Pontos essenciais da intervenção de Haddad:
- Inflação deverá terminar 2025 dentro da meta (3% ±1,5 p.p.).
- Defende que o BC deveria ao menos indicar quando começará a cortar a Selic.
- Rejeita acusações de crise fiscal e diz que o governo entregará o melhor resultado desde 2015.
A divergência entre Fazenda e Banco Central torna-se um elemento crescente no debate económico, embora ainda não tenha alterado a trajetória efetiva da política monetária.
5. Comércio externo: superavit dispara com redirecionamento para a China
A 6 de novembro, o Ministério do Desenvolvimento reportou superavit de 7 mil milhões USD em outubro, um aumento de 70,2% face ao ano anterior.
Motor do desempenho:
- Exportações +9,1%, impulsionadas por:
- petróleo,
- minério,
- soja,
- café,
- milho,
- carne bovina.
- Importações –0,8%, interrompendo tendência de alta do primeiro semestre.
- Reorientação clara das exportações para a China (+33,4%), enquanto as tarifas dos EUA provocam forte queda para esse mercado.
- Superavit acumulado de janeiro a outubro: 52,4 mil milhões USD, ainda 16,6% abaixo de 2024 devido ao mau desempenho no início do ano.
O segundo semestre confirma que o Brasil está a ajustar rapidamente a sua geografia comercial, reduzindo dependência dos EUA e reforçando a relação com a China no contexto de preços elevados das commodities.
Conclusão
Entre junho e novembro de 2025, o Brasil atravessou um ciclo de desinflação gradual, política monetária rigorosa e forte realinhamento comercial motivado pelas tensões tarifárias com os EUA. A Selic em 15% continua a ser o eixo central da ancoragem da inflação, apesar da crescente pressão política para cortes. No setor externo, o redirecionamento das exportações, com queda acentuada para os EUA e forte aumento para a China, demonstra a capacidade de adaptação do país num contexto internacional mais volátil.
A combinação de inflação controlada, contas externas robustas e negociações diplomáticas em curso reduz riscos macroeconómicos imediatos. Contudo, a política monetária permanece o fator determinante para a trajetória económica de 2026.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre o PIB do Brasil, formato “Geral”, atualizado com informações até 06 de Novembro de 2025. Categoria: Economia. Classe de Ativos: N/A Tags: Economia, Brasil, America do Sul)