
Aqui pode acompanhar as últimas noticias relacionadas com o Café. As notícias são uma componente importante pois ajudam a manter uma linha condutora em relação aos eventos mais relevantes que afetam esta mercadoria.
Mercado do café em turbulência: preços disparam, procura retrai-se e tarifas agravam o cenário
Destaques (8 de abril de 2025)
- Na terça-feira, 7 de março, traders e torrefadores reportaram uma redução drástica nas compras, após uma subida de 70% nos preços do café arábica desde novembro
- Um relatório da FAO publicado a 14 de março indica que os choques de preços no café levam cerca de um ano a refletir-se no consumidor e persistem durante vários anos
- Na quarta-feira, 27 de março, grandes marcas como Lavazza, Illy, Nestlé e JDE Peet’s confirmaram negociações difíceis com retalhistas e aumentos até 25% nos preços ao consumidor
- As tarifas impostas por Donald Trump a 3 de abril causaram quedas imediatas nos preços globais do café, com os EUA a imporem 10% sobre o Brasil e até 46% sobre o Vietname
- A pressão intensificou-se a 4 de abril, com os futuros do café a afundarem mais de 5%, e analistas alertam para a retirada do Vietname do mercado americano
- Na segunda-feira, 8 de abril, o Brasil vê oportunidade de reforçar exportações de robusta para os EUA, mas alerta que o cenário é mais de incerteza do que de ganho
Preços em alta e retração do mercado
A forte escalada nos preços do café arábica, que registou uma subida acumulada de 70% desde novembro, deixou os traders e torrefadores em alerta no início de março. Empresas reduziram as compras ao mínimo necessário, evitando contratos de longo prazo. A expressão “hand to mouth” tornou-se comum entre brokers e importadores, com transações feitas apenas com inspeção e pagamento imediato.
O impacto foi sentido nas operações de armazenagem junto aos portos norte-americanos, onde os volumes caíram para metade. Os contratos de leasing de silos começaram a ser cancelados antecipadamente. Um executivo do sector afirmou que “algumas empresas já estão a devolver espaço alugado”.
Do lado dos produtores, a ELCAFE, no Equador, reportou que, em março, apenas tinha vendido 30% da produção anual esperada, quando em anos normais já estaria esgotada. A procura fragilizou-se e a margem de manobra dos clientes ficou limitada pelo aumento dos custos.

Efeitos no consumidor e nas cadeias de retalho
Segundo um relatório da FAO divulgado a 14 de março, os choques no preço do café levam cerca de 11 meses a refletir-se nos consumidores da União Europeia e 8 meses nos EUA. Ainda assim, o efeito prolonga-se no tempo, com impacto residual durante quatro anos.
Apesar da subida nas matérias-primas, o preço final ao consumidor sobe de forma mais contida devido a fatores como transporte, certificação, torrefação e margens de distribuição. O relatório estima que, na UE, um aumento de 1% no preço do café verde leva a uma subida de apenas 0,24% no retalho após 19 meses.
Em países produtores, os aumentos no preço pago aos agricultores ficaram longe dos ganhos nos mercados internacionais: +17,8% na Etiópia, +13,6% no Brasil, +12,3% no Quénia e +11,9% na Colômbia.
Retalhistas resistem e consumidores mudam hábitos
No final de março, torrefadoras como Lavazza, Illy, Nestlé e JDE Peet’s pressionavam os supermercados para repercutirem os custos crescentes. Mas os retalhistas hesitavam em assinar novos contratos, resultando em ruturas temporárias, como no caso da cadeia neerlandesa Albert Heijn.
Os produtos regressaram às prateleiras a 20 de março, mas com aumentos de até 25%, assumidos parcialmente pelos retalhistas para manter os preços acessíveis.
Nos Estados Unidos e Europa, o volume de vendas de café torrado caiu 3,8% em 2024, enquanto os preços subiram 4,6%. A tendência de substituição por marcas de supermercado ganhou força: as marcas próprias (private label) aumentaram a quota de mercado nos EUA em 13% desde 2021.

Mesmo empresas como a J.M. Smucker e a Starbucks, menos expostas ao custo dos grãos no produto final, admitem que a pressão nas margens é inevitável.
Choque geopolítico: tarifas e queda nos preços
A situação agravou-se com o anúncio de tarifas comerciais generalizadas por parte dos EUA, a 3 de abril, incluindo 10% sobre o café do Brasil, 32% para a Indonésia e 46% para o Vietname, as primeiras tarifas norte-americanas sobre café desde a era colonial.
Especialistas alertam que as tarifas aumentam os custos e a complexidade para importadores e torrefadores, num mercado já altamente pressionado. O preço de referência do arábica caiu 0,9% no dia, enquanto o robusta recuou 0,2%.
No dia seguinte, 4 de abril, os futuros do café registaram quedas superiores a 5%, com receios crescentes sobre a viabilidade do café vietnamita nos EUA. Um dealer estimou um desfasamento de $1.944 por tonelada entre o café robusta do Vietname e o do Brasil, o que poderá retirar o Vietname do mercado norte-americano.
Brasil: entre riscos e oportunidades
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafe) viu na nova configuração tarifária uma possível janela de oportunidade para aumentar as exportações de robusta para os EUA. Em 2024, os Estados Unidos foram o maior comprador de café brasileiro, representando 16% das exportações totais (8,13 milhões de sacas de 60 kg).
Contudo, o Cecafe alerta que o cenário “é mais de preocupação do que de ganhos”, sublinhando que a inclusão do café numa lista de exceção tarifária seria o melhor desfecho. Segundo estudos citados, cada dólar gasto em importações de café gera 43 dólares na economia norte-americana.
Para 2025, os especialistas preveem queda na produção de arábica e aumento da produção de robusta no Brasil, o que poderá favorecer uma redistribuição das exportações, mantendo a posição do país como principal fornecedor num contexto volátil.
Conclusão
O mercado global do café enfrenta uma tempestade perfeita, combinando subidas abruptas nos preços, retração da procura, pressões no retalho, alterações nos hábitos de consumo e, mais recentemente, choques geopolíticos com novas tarifas comerciais.
Embora o Brasil possa beneficiar pontualmente desta nova configuração, o cenário global é marcado por incerteza, resistência dos consumidores a novos preços e queda nas margens operacionais.
Tal como sublinhado por analistas e produtores, as expectativas de mercado poderão mudar rapidamente se houver alterações na produção agrícola, nas condições climáticas, na inflação ou no contexto geopolítico. Até lá, a resiliência do café continuará a ser testada, tanto na origem como na chávena.
Visite o Disclaimer para mais informações.
Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre o Café, formato “News”, atualizado com informações até 11 de Abril de 2025. Categorias: Mercadorias. Tags: Mercadorias, Agricultura, Café, Brasil, Vietname)