Pressão financeira e aposta imobiliária

Antes da chegada de Luca de Meo, a Kering atravessava um período de forte pressão. Em dois anos, o grupo perdeu mais de metade do seu valor em bolsa, muito devido ao desempenho fraco da Gucci. Em paralelo, a estratégia do anterior CEO François-Henri Pinault reforçou a aposta em imóveis icónicos, como o edifício da Fifth Avenue (Nova Iorque) adquirido em 2024 por 963 milhões de USD e a propriedade na Via Monte Napoleone (Milão) comprada em 2025 por 1,3 mil milhões de EUR. Estes negócios elevaram o portefólio imobiliário para cerca de 4 mil milhões de EUR, mas aumentaram a pressão sobre o balanço.

A chegada de De Meo e as primeiras medidas

No dia 9 de setembro, Luca de Meo foi confirmado como CEO e anunciou que até ao final de 2025 tomaria decisões difíceis mas necessárias. Entre os eixos estratégicos, destacou a necessidade de reduzir dívida, cortar custos e reorganizar marcas menos rentáveis. Poucos dias depois, em 10 de setembro, adiou para 2028-2029 a aquisição integral da Valentino ao fundo Mayhoola, que originalmente estava prevista entre 2026 e 2027. Esta decisão foi vista como o primeiro passo para aliviar a dívida de 9,5 mil milhões de EUR e ganhar margem de manobra.

No 15 de setembro, já como CEO em funções, De Meo definiu como prioridade dar ao grupo uma imagem mais eficiente. O plano inclui cortes de pessoal, encerramento de lojas e redução de marketing, medidas que visam ajustar custos num grupo avaliado em 30 mil milhões de EUR mas com uma dívida total de 16 mil milhões de EUR. Em 2024, a dívida correspondia a 3,5 vezes o EBITDA, um rácio considerado arriscado pela S&P. Para atingir 2x EBITDA até 2026, seria necessário reduzir a dívida em 8,5 mil milhões de EUR, assumindo EBITDA de 3,9 mil milhões de EUR nesse ano.

Reestruturação da Gucci como prioridade

O momento mais simbólico da nova estratégia ocorreu a 17 de setembro, quando Francesca Bellettini foi nomeada CEO da Gucci, substituindo Stefano Cantino após apenas nove meses. Bellettini já desempenhava funções de vice-CEO da Kering desde 2023 e teve papel relevante na contratação de Demna como diretor criativo. O outro vice-CEO, Jean-Marc Duplaix, manteve-se como COO, enquanto a estrutura de cargos duplos foi eliminada.

Segundo De Meo, a prioridade é construir uma organização “mais eficiente e clara”. A Gucci, que em 2022 gerava mais de 10 mil milhões de EUR em receitas anuais mas perdeu tração nos últimos dois anos, será o epicentro da recuperação do grupo. A aposta em Bellettini mostra que a Kering quer devolver estabilidade e foco à sua principal marca.

Conclusão

Entre o final de agosto e meados de setembro de 2025, a Kering iniciou uma fase de reestruturação profunda. A redução da dívida, o adiamento da compra integral da Valentino e a aposta em Francesca Bellettini para liderar a Gucci são marcos da nova era de Luca de Meo. O desafio será equilibrar disciplina financeira e revitalização criativa, garantindo que a Gucci recupere protagonismo enquanto o grupo estabiliza as suas fundações financeiras.

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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Kering, formato “News”, atualizado com informações até 17 de Setembro de 2025. Categorias: Consumo. Tags: Acionista, Kering, Earnings, França, Luxo, Vestuário)