Moderna entre pressão regulamentar, queda da procura e cortes agressivos: trajetória estratégica entre junho e novembro de 2025
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Strategic Highlights — atualizado a 06 novembro 2025
- Despesas operacionais 2025 revistas para 5,2–5,4 mil milhões USD, após cortes adicionais de 700 milhões USD.
- Receitas previstas para 2025 reduzidas para 1,6–2,0 mil milhões USD, refletindo fraca procura de vacinas COVID.
- Aprovação do mRESVIA para 18–59 anos enfrenta incerteza devido à recomposição do ACIP com membros críticos das vacinas.
- Redução de ~10% da força laboral global, com a Moderna abaixo de 5.000 colaboradores até final de 2025.
- Receita COVID Q3 de 971 milhões USD superou expectativas, mas o mercado total continua em forte contração.
Nota de Contexto
A Moderna tornou-se um dos principais desenvolvedores globais de vacinas mRNA durante a pandemia, com destaque para Spikevax, que atingiu 18,4 mil milhões USD de receita em 2022. Com o colapso posterior da procura e a normalização dos programas nacionais de vacinação, o negócio enfrenta uma transição estrutural. A empresa procura reposicionar-se através da diversificação do portefólio RSV, combo COVID-flu, e outros produtos mRNA, mas enfrenta forte pressão regulamentar, incerteza de políticas de saúde e necessidade de reequilibrar custos após o pico pandémico.
1. Resultados e dinâmica financeira
A empresa atravessou uma correção profunda ao longo de 2025. No 2.º trimestre, a receita caiu 41%, ficando em 142 milhões USD, ainda assim acima das estimativas de mercado. O prejuízo ajustado, de –2,13 USD, surpreendeu positivamente pela redução das perdas.
No 3.º trimestre, a empresa apresentou um quadro misto: Apesar da queda anual de 45% na receita total, para 1,0 mil milhões USD, os números ficaram acima das previsões, com a vacina COVID a gerar 971 milhões USD, superando largamente as estimativas. Esta superação reflete sobretudo o ciclo de reforços, mas não altera a tendência estrutural de declínio: a própria empresa reconhece que os volumes estão muito longe dos padrões de 2022.
O produto mRESVIA revelou desempenho fraco no trimestre, com apenas 2 milhões USD face aos 20,9 milhões USD esperados, sinalizando dificuldade competitiva frente à Pfizer e GSK.
A evolução financeira foi condicionada por atrasos nas entregas ao Reino Unido, empurrando parte das receitas contratuais para 2026. Isso levou a Moderna a cortar o guidance total para 1,6–2,0 mil milhões USD, rebaixando o limite superior previamente indicado.
2. Estrutura de custos e medidas de austeridade
A empresa desencadeou uma resposta agressiva à perda de escala. O plano inicial de corte de 1,5 mil milhões USD até 2027 foi complementado por medidas adicionais durante 2025.
Entre janeiro e agosto, a Moderna eliminou 800 milhões USD em custos, ao que acresce um plano de novos cortes de 400 milhões USD para 2025. Em novembro, avançou com uma revisão ainda mais significativa: redução adicional de 700 milhões USD nas despesas operacionais, ajustando o outlook para 5,2–5,4 mil milhões USD.
Parte destas poupanças resulta da redução de capacidade industrial, da revisão de programas clínicos e da diminuição do esforço de I&D com o CFO a confirmar que vários projetos não progredirão para fases avançadas.
A redução de ~10% da força laboral, que deixará a Moderna com menos de 5.000 funcionários, marca um ponto de viragem profunda na estrutura pós-pandemia.
3. Impacto regulatório e risco político
O ambiente regulatório nos EUA deteriorou-se de forma significativa para a empresa. A partir de agosto, a FDA limitou as vacinas COVID atualizadas apenas a seniores e grupos de risco, e em setembro o CDC impôs a necessidade de decisão conjunta médico-paciente, aumentando fricções no acesso. Essas regras levaram as taxas de vacinação ao nível mais baixo desde o lançamento das vacinas.
A situação agravou-se com a substituição total dos 17 membros do ACIP por parte de Robert F. Kennedy Jr., introduzindo um risco político direto para a aceitação de vacinas mRNA. Analistas destacaram receios de que o novo painel possa desincentivar recomendações alargadas, afetando de forma crítica produtos como o mRESVIA, recém-aprovado para 18–59 anos de risco mas dependente da recomendação do CDC para inclusão nos programas.
Este fator tornou-se imediatamente visível na reação do mercado: as ações caíram 2,3% após o anúncio, sinalizando desconfiança sobre a expansão da indicação clínica.
4. Drivers estratégicos: portefólio mRNA e combinações
A Moderna continua a posicionar o seu portefólio futuro nas vacinas combinadas e em terapias respiratórias. A vacina COVID-flu combo, crucial para a recuperação do ciclo de receitas, enfrentou um revés depois de a FDA exigir dados de eficácia de fase avançada. A empresa retirou a submissão em maio e não prevê aprovação antes de 2026.
Ainda assim, a direção reitera o objetivo de oito aprovações adicionais nos próximos três anos, indicando uma estratégia baseada na diversificação de produtos e na redução da dependência do COVID.
5. Reação de mercado
No agregado do período analisado, as ações da Moderna enfrentaram forte pressão:
- –2,3% em junho devido ao risco regulatório no RSV;
- >20% de queda acumulada até julho;
- –7% após a revisão do guidance em agosto;
- Tendência descendente contínua com o anúncio dos cortes adicionais de novembro.
A queda >90% face ao pico pandémico coloca a empresa num processo de reconstrução de credibilidade financeira e de pipeline.
Conclusão
Entre junho e novembro de 2025, a Moderna viveu um período de ajuste profundo marcado por três forças principais: pressão regulatória intensa, deterioração da procura por vacinas COVID e necessidade urgente de reestruturar custos. Apesar de algumas surpresas positivas pontuais, como as receitas COVID acima das expectativas no 3.º trimestre, o quadro geral revela um negócio em contração estrutural e dependente de decisões políticas externas.
A capacidade da empresa de estabilizar o modelo económico dependerá da evolução de três eixos:
- normalização do ambiente regulatório nos EUA, decisiva para mRESVIA e futuras recomendações;
- execução clínica dos programas mRNA respiratórios, em particular a vacina COVID-flu combo;
- disciplina de custos, que continuará a ser o principal amortecedor enquanto as receitas não recuperam.
O período fecha com uma Moderna mais leve, mais cautelosa e ainda sob forte escrutínio do mercado, mas com sinais de reorganização estratégica que poderão definir o seu posicionamento para 2026–2027.
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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.
(Artigo sobre os Earnings (Resultados) da Moderna, formato “News”, atualizado com informações até 06 de Novembro de 2025. Categorias: Saúde. Tags: Acionista, Saúde, Farmacêutica, EUA, Moderna)