Nestlé revê negócio de vitaminas após crescimento anémico nas vendas

Revisão estratégica após desempenho abaixo do esperado

A 25 de julho de 2025, a Nestlé anunciou uma revisão estratégica do seu negócio de vitaminas e suplementos alimentares, perante um crescimento fraco e margens pressionadas neste segmento. A decisão surge no seguimento de um primeiro semestre marcado por fraco dinamismo de volume de vendas, apesar de uma performance financeira dentro das expectativas em termos de receitas globais.

A revisão deverá avaliar a rentabilidade e a relevância estratégica da unidade, num momento em que a empresa procura reforçar o foco em categorias essenciais com maior margem e retorno mais previsível.

Crescimento modesto apoiado por subida de preços

No primeiro trimestre de 2025, a Nestlé reportou um crescimento orgânico de 2,8%, acima da previsão média de 2,5% dos analistas. Este aumento foi impulsionado por subidas de preços de 2,1%, acima da estimativa de 1,8%, com destaque para marcas como Kit-Kat e Nescafé. No entanto, o crescimento real interno (volumes) ficou ligeiramente abaixo das previsões, em 0,7% versus os 0,8% esperados.

As vendas totais ascenderam a 22,6 mil milhões de francos suíços (cerca de 27,3 mil milhões de dólares), ligeiramente acima das expectativas de 22,5 mil milhões. A empresa manteve a previsão de crescimento orgânico para o ano, mas confirmou que a margem operacional ajustada deverá situar-se em 16% ou mais, abaixo dos 17,2% alcançados em 2024.

Impacto das tarifas norte-americanas ainda incerto

A 24 de abril de 2025, a empresa declarou que o impacto direto das tarifas impostas pelos EUA era limitado, mas que os efeitos indiretos sobre consumidores, clientes e preços das matérias-primas permaneciam incertos. As medidas norte-americanas afetam, em particular, o negócio de água, cápsulas de café e certos ingredientes, segundo a CFO Anna Manz.

Apesar disso, a Nestlé salientou que mais de 95% das suas vendas nos EUA são produzidas localmente, o que mitiga parte dos riscos operacionais imediatos.

Mudança de liderança e nova fase estratégica

Sob a liderança do novo CEO Laurent Freixe, nomeado após a saída de Mark Schneider em agosto de 2024, a Nestlé tem procurado restabelecer a confiança dos investidores. Entre as principais prioridades estão:

• Crescimento de volumes reais, que sofreu com os aumentos de preços nos últimos anos;
• Controlo de custos, com um objetivo de 2,5 mil milhões de francos suíços em poupanças até ao final de 2027 (dos quais mais de 300 milhões já foram alcançados em 2025);
• Reforço da inovação e foco em categorias de maior margem.

A 13 de fevereiro de 2025, a Nestlé reportou crescimento anual orgânico de 2,2% em 2024, o mais baixo em pelo menos 25 anos. As vendas totais caíram 1,8%, para 91,35 mil milhões de francos suíços, e o lucro líquido desceu 2,9%, para 10,88 mil milhões.

Freixe reconheceu que a margem irá encolher no curto prazo enquanto a empresa investe no reposicionamento estratégico e inovação.

Conclusão

A Nestlé encontra-se numa fase de ajustamento estratégico, tentando equilibrar crescimento real, controlo de custos e simplificação do portefólio, num contexto marcado por pressões inflacionistas, mudanças nos hábitos de consumo e incertezas comerciais globais.

A revisão do negócio de vitaminas, associada a uma gestão mais centrada na execução e disciplina financeira, indica uma abordagem mais pragmática da nova liderança para relançar a marca e os resultados operacionais. A sustentabilidade do crescimento orgânico dependerá da capacidade de converter aumentos de preços em valor percebido pelo consumidor, mantendo ao mesmo tempo eficiência operacional e relevância de mercado.