Qualcomm enfrenta pressões regulatórias na China mas recupera com aposta estratégica em chips de IA

Aqui pode acompanhar as últimas informações relacionadas com a Qualcomm. Acompanhamos de forma contínua os desenvolvimentos mais relevantes que impactam esta empresa e consolidamos os pontos essenciais num formato que oferece uma visão clara, objetiva e alinhada com a nossa análise.

Nota de Contexto

A Qualcomm é um dos maiores fabricantes mundiais de semicondutores e o principal fornecedor global de modems e processadores para smartphones. Com sede em San Diego, a empresa tem uma forte exposição à China, tanto na produção como na base de clientes. Nos últimos anos, tem procurado reduzir a dependência do mercado móvel, expandindo-se para os segmentos automóvel, PC e data center, onde a procura por chips de inteligência artificial (IA) cresce rapidamente.

Linha Cronológica e Enquadramento

• Junho 2024 – A Qualcomm anuncia que irá desistir temporariamente da compra da Autotalks (Israel), após atrasos em aprovações regulatórias.
• Junho 2025 – O negócio é finalmente concluído, permitindo à Qualcomm integrar a tecnologia V2X (vehicle-to-everything) no seu portefólio Snapdragon Car Stack, coincidindo com o processo chinês de normalização dessa tecnologia até 2026.
• 10 outubro 2025 – A Administração Estatal para Regulação do Mercado (SAMR) da China abre uma investigação antitrust para avaliar se a Qualcomm violou a lei ao não declarar devidamente detalhes da aquisição.
• 10 outubro 2025 (mesmo dia) – As ações da Qualcomm recuam mais de 5%, agravadas por novas ameaças tarifárias do presidente norte-americano Donald Trump.
• 27 outubro 2025 – A empresa anuncia o lançamento dos chips AI200 e AI250, destinados a centros de dados de IA, com lançamento comercial previsto para 2026 e 2027, levando as ações a valorizar 20%.

Análise Detalhada

1. Pressão regulatória e tensões EUA-China

O anúncio da investigação chinesa à Qualcomm em outubro de 2025 insere-se num ambiente de recrudescimento das tensões comerciais e tecnológicas entre Pequim e Washington. A decisão de Pequim surge poucas semanas depois de uma acusação semelhante dirigida à Nvidia, reforçando o sinal de controlo estratégico sobre o setor dos semicondutores de IA.

A SAMR justificou o inquérito com a falta de transparência na comunicação dos termos da compra da israelita Autotalks. Embora a medida pudesse ter sido apenas uma penalização técnica (“no-harm penalty”), fontes de mercado interpretaram-na como um gesto político de pressão sobre a cadeia de fornecimento norte-americana, nomeadamente no segmento automóvel conectado.

“A China poderia ter penalizado a Qualcomm apenas com uma multa simbólica, mas poderá escolher uma sanção mais pesada, um sinal de pressão sobre as cadeias de fornecimento EUA-China”, afirmou Stephen Wu, fundador da Carthage Capital.

Além do risco jurídico, o impacto financeiro é significativo: 46% das receitas da Qualcomm em 2024 vieram de clientes sediados na China. Qualquer restrição regulatória ameaça diretamente o core revenue da empresa.

2. Reviravolta com a aposta em Inteligência Artificial

Duas semanas depois, a Qualcomm reposicionou-se estrategicamente com o anúncio dos chips de IA para data centers, designados AI200 e AI250.
Estes processadores foram desenhados para melhorar a capacidade de memória e a eficiência em tarefas de inferência, uma área dominada pela Nvidia. A empresa pretende disponibilizá-los comercialmente em 2026 e 2027, destacando compatibilidade com frameworks comuns e eficiência energética superior, um argumento crucial para empresas que procuram reduzir custos em operações de IA generativa.

A Qualcomm revelou ainda o primeiro acordo internacional de grande escala: a start-up Humain, apoiada pelo fundo soberano da Arábia Saudita, irá instalar 200 megawatts de racks baseados nestes chips a partir de 2026.

“A entrada da Qualcomm e o acordo na Arábia Saudita provam que o ecossistema está a fragmentar-se, nenhuma empresa isolada consegue responder à procura global descentralizada por computação eficiente”, explicou Joe Tigay, gestor do Rational Equity Armor Fund.

O mercado reagiu de forma imediata e expressiva: as ações subiram 20%, o maior salto mensal desde 2021, refletindo a confiança renovada na diversificação tecnológica e na capacidade de competir com Nvidia e AMD.

3. Implicações estratégicas

A leitura conjunta dos dois eventos mostra uma mudança de narrativa no espaço de apenas 17 dias:

• De um risco regulatório severo – que reavivou memórias da multa de 975 milhões USD imposta pela China em 2015,
• Para uma revalorização estrutural, assente na projeção da Qualcomm como fornecedor relevante no ecossistema global de IA.

Apesar da recuperação bolsista, o risco geopolítico permanece elevado. A dependência da base de clientes chineses e a escalada de políticas de contenção tecnológica entre as duas potências mantêm o título vulnerável a novos choques.

Conclusão

A trajetória de outubro de 2025 ilustra bem o duplo desafio estratégico da Qualcomm:
manter relevância no setor dos semicondutores face à pressão regulatória chinesa e à supremacia tecnológica da Nvidia.

O lançamento dos chips AI200 e AI250 posiciona a empresa como um novo player competitivo no mercado de data centers, oferecendo uma alternativa mais eficiente e energeticamente sustentável.
Contudo, o sucesso desta diversificação dependerá da capacidade de converter anúncios em produção efetiva e de navegar a crescente fragmentação geopolítica da indústria.

No curto prazo, o sentimento de mercado voltou a ser positivo, mas a sustentabilidade da recuperação dependerá tanto de execução tecnológica como de diplomacia corporativa.

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Os valores encontram-se em sistema métrico europeu.

(Artigo sobre a Qualcomm, formato “News”, atualizado com informações até 27 de Outubro de 2025. Categorias: Tecnologia. Tags: Acionista, EUA, Semicondutores, Earnings, Qualcomm)